Vivemos tempos em que as batalhas ideológicas assumiram novas formas. A clássica luta entre classes, outrora no cerne das tensões sociais e impulsionada pelas ideologias socialistas, encontra-se em plena transformação. A tradicional disputa classista, ancorada nas estruturas económicas, declina à medida que o capitalismo parece estar a estabilizar globalmente.
Frequentemente criticado pelas suas tendências predatórias e desiguais, o capitalismo também é reconhecido por fomentar o crescimento e prosperidade de nações. Contudo, essa estabilidade económica introduziu uma nova dinâmica social: as batalhas ideológicas agora não são travadas nas linhas de produção ou nas ruas, mas nos âmbitos mais íntimos do ser humano – os seus corações e mentes.
Para os proponentes do socialismo, torna-se essencial encontrar novas arenas de luta, novos conflitos que possam substituir a antiga disputa de classes. Surge, então, um fenómeno inquietante: a fragmentação da sociedade em categorias cada vez mais delimitadas, que transcendem as tradicionais divisões de classe económica e penetram em esferas como orientação sexual, estilo de vida, identidade de género ou etnia.
Estas categorias são frequentemente retratadas como vítimas de um capitalismo opressor ou de forças obscuras que manobram os bastidores do poder. Sob a bandeira da inclusão e justiça social, semeia-se a discórdia e o conflito. Os defensores dessas novas ‘classes’ advogam pela igualdade como remédio para todas as injustiças.
Porém, é crucial questionarmos: que tipo de igualdade é esta? Procura-se a igualdade de oportunidades, um tratamento equitativo perante a lei, ou uma igualdade que visa confinar as pessoas em compartimentos cada vez mais restritos, definidos por critérios subjectivos e mutáveis?
A busca por essa forma de igualdade pode levar à submissão colectiva a um poder centralizador e autoritário, capaz de regular todos os aspectos da existência. A igualdade verdadeiramente significativa é a igualdade jurídica. Apenas quando a lei é aplicada de maneira justa e imparcial a todos, e as sanções para infratores forem uniformes, independentemente de sua posição social, é que a igualdade desejada pode ser efetivamente alcançada.
Assim, a contemporânea luta de classes transcende a mera redistribuição de riqueza; ela visa assegurar que todos, sem distinção de origem, identidade ou preferências, recebam um tratamento justo e igualitário perante a lei. Somente com esse compromisso com a autêntica igualdade é que podemos vislumbrar uma sociedade verdadeiramente justa e inclusiva, desvencilhada das correntes da opressão e do controle desmedido.
Deixemo-nos destas guerras.
Devemos iniciar uma nova forma de discussão em que as diferentes visões da sociedade possam conviver e que se consiga encontrar pontos de consenso que permitam fazer o país crescer e melhorar a vida das pessoas.
Publicado em Terras do Homem: https://terrasdohomem.pt/2024/07/31/a-nova-luta-de-classes/
Deixe um comentário