Passaram-se cinco décadas desde que Portugal se libertou de um regime autoritário. A minha geração não sabe o que é viver em ditadura. No entanto, é crucial questionar se estamos a aproveitar plenamente os frutos da queda daquele regime.
A promessa de convergência com a Europa, que brilhava intensamente nos anos que se seguiram à adesão de Portugal à CEE, perdeu o seu fulgor. O desenvolvimento abrandou e a distância que nos separa dos nossos vizinhos europeus está a aumentar ano após ano.
Podemos ver agora nações do Leste Europeu, renascidas das cinzas do comunismo, a ultrapassarem-nos rapidamente mesmo recebendo menos fundos e por menos tempo, o que levanta questões sobre as causas da nossa própria estagnação. Portugal, que já se sentiu orgulhosamente só, agora parece relegado a um papel de dependência, que procura incessantemente apoio e financiamento externos.
Apesar das generosas contribuições recebidas da União Europeia, a constante necessidade de mais e mais ajuda coloca-nos numa posição desconfortável, semelhante à de um mendigo insaciável.
Torna-se imperativo perceber as razões desta paralisação. Por que razão nações que receberam menos apoio financeiro europeu e por um período mais curto conseguiram superar-nos? O que será necessário fazer para que Portugal deixe de estar de mão estendida, para que
deixe de estar na cauda da Europa? Este é um desafio que exige uma reflexão profunda e um desejo colectivo de transformação.
No entanto, revisitar o passado não deve ser confundido com um anseio pelo retorno de uma ditadura opressiva. A democracia e a liberdade que hoje desfrutamos, depois da Revolução de Abril de 1974, não podem ser vistas como definitivamente adquiridas e é nossa responsabilidade preservá-las e fortalecê-las.
Temos que parar de culpar o passado pelo atraso e pelos erros que cometemos. Devemos encarar o futuro com determinação, concentrando-nos no crescimento económico essencial para elevar os salários e a qualidade de vida em Portugal.
Chegou o momento do país libertar-se da postura de submissão e almejar um futuro de progresso e prosperidade. Apenas através de trabalho incansável, inovação e um compromisso partilhado poderemos assegurar o nosso merecido lugar na comunidade europeia.
Passados cinquenta anos do 25 de Abril é tempo de mudar a maneira de pensar e deixar de tentar fazer as mesmas coisas e esperar resultados diferentes. Para isso devemos encarar as soluções liberais como solução para mudar o país.
Publicado em Terras do Homem: https://terrasdohomem.pt/2024/04/27/opiniao-cinquenta-anos-depois/
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