Muito se comunica, principalmente pelos partidos políticos, que o nosso Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem de mudar rapidamente, quer seja uma reforma estrutural ou mesmo a injeção de mais capital no sistema existente, pois o acesso dos portugueses ao SNS e a sua resposta está cada vez mais deficitária. Mas será que conseguimos perceber o nosso SNS? Como funciona? Quais os custos envolvidos? A sua organização e o utente no meio deste serviço? Percebendo melhor o SNS compreendemos que a responsabilidade do utente no uso dos serviços de saúde públicos, deve garantir a eficiência e a sustentabilidade do sistema de saúde como um todo. Embora os serviços de saúde prestados para promover o bem-estar e tratar doenças, são, na maior parte, subsidiados ou gratuitos, é importante reconhecer que esses recursos são finitos, quer financeiros, humanos… Grande parte dos nossos impostos são alocados a este serviço para que se mantenha gratuito, mas a verdade é que todos os utentes compartilham a responsabilidade de garantir sua disponibilidade para quem mais precisa. Portanto, pagar parte pelos atos médicos, meios de diagnóstico, ou outros, quando possível, é uma forma de contribuir para a sustentabilidade do sistema e garantir que os recursos sejam alocados de forma justa.
Responsabilizar o utente a ter um acesso ao SNS quando se justifica e não por “carência” de afeto, algo que se vê cada vez mais desde que as taxas moderadoras foram eliminadas. Muitas consultas não programadas nos cuidados primários ou urgências “não urgentes” devem ser eliminadas para que o SNS funcione melhor, é incompreensível que se receba uma pulseira azul num hospital central para ter acesso a uma prescrição de medicamentos, irresponsabilidade do utente e do sistema também. Sei que as realidades entre Norte e Sul podem diferir. O acesso aos cuidados primários no Sul ainda é deficitário, pois não há número suficiente de profissionais de saúde para todas as necessidades locais, pelo menos no serviço estatal, o que nos faz pensar mais na nossa responsabilidade como utente.
Os utentes devem ser responsabilizados pelos seus deveres no uso dos serviços de saúde. Isso inclui seguir as orientações médicas, comparecer às consultas agendadas, participar ativamente no seu próprio cuidado e tomar medidas para promover sua própria saúde. Não devem ser favorecidos pelos seus atos irresponsáveis consecutivos, sabendo que estão a incumprir todos as prescrições e recomendações por parte dos profissionais de saúde e esperarem que tenham uma resposta de conforto por parte do SNS na sua “salvação”. Ao agir de forma proativa e responsável em relação à sua saúde, os utentes, não apenas melhoram a sua qualidade de vida, mas também contribuem para a eficácia geral do sistema de saúde, reduzindo a carga sobre os recursos finitos. Aqui não deixar de referir que medidas preventivas na área da saúde não devem ser esquecidas, onde devemos ter indicadores (KPI) que reflitam as ações implementadas de modo a verificar a sua efetividade, quer nos cuidados primários, quer nos hospitais, só assim, conseguimos justificar quais e como as medidas preventivas que fazem sentido.
Em resumo, a responsabilidade do utente no uso dos serviços de saúde vai além do simples acesso aos cuidados médicos, envolve assumir uma abordagem proativa para a própria saúde, caso contrário não teremos um serviço ou qualquer sistema de saúde capaz de dar uma resposta efetiva, em particular, refiro-me a uma resposta do SNS nos cuidados intensivos, oncológicos, críticos… onde o sistema privado não terá nenhum interesse em investir, não é lucrativo, e um custo oneroso para o estado, excluindo assim, todos os utentes, mesmo aqueles que possam ter capacidades financeiras para “comprar” estes serviços.
Percebo que o SNS tenho de mudar para poder responder melhor aos Portugueses, mas estas mudanças devem começar por nós, os utentes, percebendo como funciona o SNS e os nossos deveres.
Publicado em BragaTv: https://bragatv.pt/compreendendo-o-sistema-de-saude-publico/
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